Ela sentou-se na banqueta de madeira e passou a olhar pela janela. Fitava algum ponto sem importância da paisagem pálida, pensei, embora o sol me impedisse de enxergar seu rosto. Ouvi seus pensamentos:
“Acho que, ao fim e ao cabo, somos mesmo fracos. Covardes, de certa forma. Somos parecidos demais, cópias antigas de papel carbono que, da maneira mais dolorosa e ridícula possível, enfraquecem até desaparecer.
(…)
Alguma coisa se quebrou naquele dia. De fato, estamos quebrados; desmanchando, aos poucos. Não conhecemos a fúria do mundo, não vimos guerra alguma, não encontramos a podridão, não fomos apunhalados, não sujamos nossas mãos de sangue - talvez você o tenha feito, mas eu não conheço esse seu eu -, não testemunhamos qualquer tipo de mácula ou desgraça cair sobre nossas cabeças. Não teríamos direito algum de sentir tamanha dor, no entanto, experimentamos algum tipo de violência extrema e dela nunca mais nos separamos. Estamos infestados, saturados, recheados dessa violência, até o nível mais profundo de nossas almas, carregamos nos olhos toda a brutalidade crua e - sobretudo - cruel a que fomos expostos.
Saudade, sentimos tanta saudade. Não sabemos dizer o que foi perdido, não sabemos onde, não sabemos quando. Mas sentimos a falta, colossal, mais pesada do que o mundo, mais fria do que toda a indiferença, mais asfixiante, mais cortante, mais sem sentido, mais…
Ora, we are people so deeply addicted to pain.
Eu sei contar todas as estórias de amor do mundo. É uma pena…”
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